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Machado acredita que é impossível esperar muito
tempo por uma solução nacional CPA atualizada, no
caso o Projeto Trópico; "além disso", acrescenta, "a
padronização de um sistema a nível nacional tem
vantagens e desvantagens, e por si só não justificaria a
reserva. Por outro lado, a existência do Projeto Trópico
é uma conquista da política brasileira de
desenvolvimento tecnológico, da qual não se deve abrir
mão. A solução para este quebra-cabeça reside em
duas providências:
"1. Rever os objetivos do Projeto, ajustando-o à
-ealidade atual da conjuntura brasileira.
"2. Reduzir seus prazos, o que só pode ser obtido
usando-se uma tecnologia de produto pronta e
admitindo-se participação substancial da indústria no
desenvolvimento” .
"Como tecnologia de produto pronta deve ser entendido
o conjunto de regras e normas para a implementação
do produto, ou seja,: estrutura mecânica, conectores,
escolha de componentes etc."
Segundo o diretor de tecnologia da Ericsson, a política
Para Machado, é preciso ajustar o Projeto Trópico à realidade industrial de telecomunicações não deve ser
brasileira e reduzir seus prazos. condicionada à viabilização da produção de
componentes:
"O assunto é mais complexo do que a pergunta sugere.
Desde 1975 vem-se cuidando de atender a decisões "Não esqueçamos que componentes digitais são usados
governamentais que requerem despesas, preparação também pelas áreas de informática, controle de
de pessoal, transferência de tecnologia e processos e. principalmente, pelo setor
nacionalização do capital das empresas. Em todo eletrodoméstico, este talvez o mais importante, pelo
contrato, como se sabe, há uma reciprocidade de volume da demanda. Quanto ao problema da
compromissos. A instalação do AXE espacial em São nacionalização, é claro que os índices iniciais serão
Paulo é, de certa forma, conseqüência natural da inferiores aos já alcançados pela indústria nos
reciprocidade a que me referi. equipamentos convencionais. Mas isto é o preço a ser
pago em qualquer transição tecnológica. Insisto: os
Entretanto, o fator mais importante é a necessidade componentes digitais invadirão o País, com ou sem
manifestada pelo usuário de dispor de sistemas CPA. CPAs. A produção local desses componentes virá em
Isso justifica o fornecimento dos CPAs analógicos, que, conseqüência da demanda."
de qualquer forma, proporcionam as facilidades de
soluções CPA e podem ser oferecidas de imediato.” —É fato que precisaremos esperar de oito a nove anos
pela industrialização do Projeto Trópico? Valerá a pena
Na opinião de Machado, não houve discriminações no essa espera para termos um projeto nacional?
fornecimento do AXE, e, sim, desinteresse de algumas
empresas pela "fase analógica”, por terem preferido "Como já disse, a participação intensa da indústria e a
reservar os investimentos para a "fase digital”. "No adoção de uma teconologia de produto pronta podem e
nosso caso (da Ericsson), tal problema não ocorreu, devem acelerar o desenvolvimento. Só os pioneiros tâm
porque dispomos de um sistema que pode ser que pagar o preço total, e este não é o nosso caso.
implementado em versão digital ou analógica. 0 sistema Quanto a valer a pena, repito: não podemos esperar
é o mesmo, muda só a forma de implementação. Por tanto tempo por uma solução atualizada; mas, que vale
isso, a maior parte de nossos investimentos atuais a pena ter o Projeto Trópico, não tenho dúvida. Sua
será aproveitada na "fase digital”. existência é uma conquista de política tecnológica, que
não podemos deixar reverter” .
— Sobre o Projeto Trópico, houve quem dissesse que a
digitalização deveria ser total, e, assim, pode-se inferir Q vice-presidente da NEC, Hervé Pedrosa, é de opinião
que a complementação de outras técnicas, como a que, neste estágio da técnica, a decisão de cancelar a
analógica, ampliaria o compromisso com o passado, concorrência foi acertada, apesar de ter sido muito
dificultando a aceleração para o futuro. Concorda? desgastante para ambas as partes envolvidas.
"Sim e não. Sim, por ser essa afirmação técnica e “Está na hora de partirmos para a digitalização, por se
economicamente correta. Não, porque, em telefonia, o ela a solução técnica e econômica a ser adotada nos
País não é um território virgem e, assim, qualquer sistemas integrados de telecomunicações, informática
técnica que venha a posteriori deverá ser integrável ao correio eletrônico e vídeo postos à disposição dos
sistema existente." usuários” .