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PRESIDENTE  DA  ABRAFET  FALA  SÔBRE  AS
                          TELECOMUNICAÇÕES  NO  BRASIL

                            EM  BUSCA  DA  COMUNICAÇÃO

                                                                 O  Globo,  Rio  -  10-5-69
             Tudo  começou  em  setembro  de  1965,   possuiam  50  telefones,  para  cada  100  ha­
         com  a  constituição  da  Emprêsa  Brasileira   bitantes  e  a  Argentina  7,  o Brasil  tinha pou­
         de  Telecomunicações  —  E M B R A T E L  co  mais  de  1,5  telefones  para  cada  cem  de
         —  destinada  a  criar  no  Brasil  uma   seus  habitantes.
         infra-estrutura   no   campo   das   teleco­  Os  déficits  das  concessionárias  dos  ser­
         municações  necessária  ao  atendimento  das   viços  se  acumulavam  e  os  investidores  par­
         necessidades  atuais  e  com  ampla  possibilida­  ticulares  não  se  animavam  a  qualquer  apro­
         de  de  expansão.  Isto  reativou  emprêsas  que,   ximação  do  setor,  pois  qualquer  aplicação
         constituídas  no  Brasil  há  mais  de  quarenta   de  capital,  neste  tipo  de  emprêsa,  não  teria
         anos,  como  a  Ericsson,  estavam  com  tôdas   condições  mínimas  de  rentabilidade.
         as  atividades  pràticamente  paralisadas,  ou   Como  os  recursos  não  estavam  disponí­
         obrigando-as  a  iniciar  atividades  paralelas,   veis  para  qualquer  reaparelhamento  no  sis­
         como  meio  de  sobrevivência.         tema  de  comunicação,  foi  adotada  uma  so­
            Êste  fõi  o  caso  da  Standard  Electric  que   lução  sem  precedente  no  mundo:  “quem
         se  viu  forçada  a  iniciar  a  produção  de  ele­  quiser  ter  telefone  deve  pagar  para  isso'.
         trodomésticos  para  manter  seu  quadro  téc­  Com  êste  financiamento  compulsório,  foi
         nico.                                  possível  iniciar  a  expansão  dos  serviços  te­
                     ESTAGNAÇÃO                 lefônicos  nas  principais  cidades  do  País,  pa­
                                                ralelamente  ao  início  dos  trabalhos  para
            Até  a  constituição  da  EMBRATEL,  os   cumprimento  do  plano  nacional  de  teleco­
         serviços  de  telecomunicações  em  todo  o  País   municações.
         eram  explorados  por  concessionários  que,
         com  tarifas  irreais  pagas  pelo  serviço,  en­  CRESCIMENTO
         frentavam  deficits  enormes,  ficando  impos­
         sibilitados  até  de  manter  em  níveis  normais   A  precariedade  dos  serviços  telefônicos,
         a  simples  manutenção  dos  equipamentos.  O   consolidada  por  anos  de  desajuste  econômi­
         grau  de  eficiência  dos  serviços,  consequen­  co,  atingiu  tais  limites  que  a  demanda
         temente,  deixava  muito  a  desejar.  ácumulada  só  poderá  ser  satisfeita  com  três
            Porém,  a  coordenação  da  ação  estatal   anos  de  trabalho  intenso,  com  as  fábricas
         no  setor,  através  da  EMBRATEL,  reativou   produzindo  a  todo  o  vapor.  E,  mesmo  as­
         a  iniciativa  privada.  A  política  de  tarifas   sim, os resultados,  no panorama mundial,  se­
         mais  realistas  e  a  introdução  do  sistema  de   rão  pràticamente  inexpressivos:  em  fins  de
         autofinanciamento  para  a  expansão  das  ré-   1972,  existirão  apenas  dois  telefones  para
         des  telefônicas  teve  como  resultado  quase   cada  grupo  de  cem  brasileiros.  Porém,  já
         imediato  a  motivação  de  um  setor  indus­  estará  implantada  uma  sólida  infra-estru­
         trial  que  até  então  existia  apenas  em  po­  tura,  que  permitirá  o  desenvolvimento  nor­
         tencial.                               mal  das  telecomunicações.
            E,  segundo  os  empresários,  as  tarifas   Entretanto,  p  desentrave  do  esquema  de
         confiscatórias  vigentes  há  poucos  anos  im­  telecomunicações  propiciou  o  ativamente  de
         pediam  qualquer  esforço  para  melhorar  o   um  setor  empresarial  e,  .só  na  Guanabara,
         setor.  As  emprêsas  que  fabricam  equipa­  o  equipamento  para  a  expansão  dos  servi­
         mento  telefônico  no  Brasil  —  Standard   ços  telefónicos  resultou  em  operações  da
         Electric,  Ericsson,  Plessey  ATE  e  Phillips  —   ordem  de  US$  150  milhões,  fora  a  rêds  ex­
         chegaram  a  funcionar  apenas  três  dias  por   terna,  instalações  de  centros,  e  obras  civis
         semajia.  A  Standard  Electric,  na  época,   de  um  modo  geral,  onde  foi  despendida
         mantinha  dois  mil  funcionários  numa  linha   quantia  idêntica.
         de  produção  de  eletrodomésticos  e,  como   E,  nos  demais  Estados  onde  é  respon­
         tôdas  as  demais  firmas  do  setor,  estava   sável  por  parte  do  serviço  telefônico  a  Cia.
         com  sua  atividade  principal  pràticamente   Telefônica  Brasileira  está  investindo  um  to­
         paralisada.                           tal  de  NCrS  1  bilhão  na  expansão  das  rêdes
            Enquanto  isso,  as  telecomunicações  no   locais.  A  mudança  da  orientação  governa­
         'Brasil  encontravam-se  em  estado  caótico.   mental  teve  reflexos  diretos  sôbre  a  iniciati­
         Péssimo  funcionamento,  além  de  um  enor­  va  privada.  Na  fase  de  paralisação,  a  Stan­
         me  deficit  no  número  de  telefones  por  ha­  dard.  Electric  tinha  2  mil  empregados  na  sua
         bitante,  pois  enquanto  os  Estados  Unidos  fábrica  do  Rio  de  Janeiro,  todos  empenha-
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