Page 6061 - Revista Telebrasil
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0   M I T O   F R E N T E














                                                                                                                                                                                     À   R E A L I D A D E






























                                                                                bdos nós, com maior ou menor percepção do fato,  vivemos imersos em mi­




                                                                                 tologias. Seja Vénus ou Marilyn Monroe, Hércules ou Rambo, Napoleão ou





                                                                  Getúlio Vargas,  os mitos sempre nos perseguiram.  Dizem os estudiosos que o





                                                                 mito, em si, não é idéia ou conceito, mas sim uma forma ou maneira de passar




                                                                 uma mensagem. E o que distingue esta mensagem? Ela se caracteriza peia am-





                                                                 bigüidade (pode assumir vários significados), pelo sentido poético e pelo envol­




                                                                 vimento emocional, que retira a racionalidade. Mas é sobretudo no nascedouro





                                                                 que o mito se distingue por tomar para si uma significação histórica qualquer,




                                                                 atendendo a uma vulnerabilidade ou necessidade do momento.




                                                                           E o que realizam os mitos? Muita coisa. Não só servem como eficazes instru­





                                                                 mentos para harmonizar pontos de vista conflitantes como também facultam




                                                                 ao mais humilde dos mortais sonhar um pouco,  mascarando as agruras e im­





                                                                 perfeições do mundo real. Na fábrica em que se produz o mito a matéria-prima




                                                                 é a história. O mito eterniza de certa maneira a história. Mas o faz à sua maneira





                                                                — ambígua, poética, emocional— levando Fernando Pessoa a afirmar que “o




                                                                 mito é um nada que vira tudo".





                                                                          A grande energia do mito reside em fixar mensagens. O ideal da beleza muito




                                                                 deverá ao mito de Vénus,  o da força bruta a Rambo,  o do poder trágico a Na­




                                                                poleão.  Por outro lado, o mito também pode ser estratégia para manter imutá­





                                                                 vel a sociedade. Ele aponta para o passado e não para o futuro.  Todavia, o vigor





                                                                do mito, enquanto mito, é incontestável. Ele ajuda a sobrepujar épocas de crise




                                                                e pode unir poderosamente pessoas em torno de ideais comuns.  Sua força se




                                                                faz sentir nas horas de conflito ou decisão— invoca-se ou ataca-se o mito para





                                                                se defender as respectivas posições e até para se ganhar eleições.




                                                                          Lado a lado, com o mito, caminha a realidade, com todo grande capítulo da





                                                                discussão central que este termo possa significar.




                                                                          Tudo isto nos leva a considerar o que são no setor das telecomunicações seus





                                                               mitos e realidades. Será o benefício do monopólio estatal um mito ou uma rea­




                                                                lidade? Constituirá o regime privatizante visto como alternativa melhor para o





                                                               que aí está,  mito ou realidade? E quanto à interiorização e popularização das




                                                                telecomunicações? Ou sobre os usos sociais,  militares,  comerciais do satélite





                                                               doméstico? E as perspectivas do atendimento da demanda? A tecnologia na­




                                                               cional? OCPqD?





                                                                         Onde estarão os mitos e onde começa a realidade? Tais foram os temas abor­




                                                               dados, sob vários enfoques, no XVI Painel Telebrasil, em Canela (RS), num mo­





                                                               mento crítico para as telecomunicações do País, onde se configura uma nova




                                                               Constituição e,  talvez,  novos rumos.  (JCF)













                                                               Coadunando-se com a diminuição do numero de paginas deste

                                                               numero e nao querendo prejudicar a extensão da matéria, a edi-

                                                               tona da REVIS TA  TELEBRASIL decidiu que a reportagem do XVI

                                                               Painel sera publicada em duas edições sucessivas
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