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A IMBECILIDADE DOS "SLOGANS"

(Transcrito de "Brasil em Marcha”, edição de agôsto de 1962)

ROBERTO CAMPOS

Há dois ou três anos popularizou- e não querem ser incomodados pelos

-se, no Brasil a «teoria tipográfica do fatos.Mesmo quando êstes são próxi­

desenvolvimento econômico». Confun­ mos e gritantes. Por exemplo: o Es­

dia-se a criação de moeda com criação tado de São Paulo, espoliado por enor­

de riqueza. Imaginava-se possível im­ me concentração de capitais estran­

pulsionar o desenvolvimento econômi­ geiros, deveria ser pobre: o Piauí, por

co simplesmente imprimindo papel- êles intocado, deveria ser rico. A Ho­

-moeda «para fins produtivos». A teo­ landa tem absorvido vastas doses de

ria era gostosa demais. Acabamos ten­ capital estrangeiro e prossegue em rá­

do mais inflação e menos desenvolvi­ pido crescimento; a Albânia não os

mento do que seria possível alcançar absorve, e continua miserável. Uma

se fôsse menor a ingenuidade de nos­ variante dessa teoria, muito em moda

sos políticos. entre os nossos esquerdistas, é atri­

Agora passamos à teoria «slogâmi- buir-se nosso subdesenvolvimento ao

ca» do desenvolvimento. Cunha-se um imperialismo norte-americano. Mas o

«slogan» qualquer, preferivelmente de Brasil, ao longo de todo o século XIX.

sabor popular, e alcança-se duplo su­ desenvolveu-se muito lentamente (sub-

cesso: descobre-se a causa do subde­ desenvolveu-se em termos relativos),

senvolvimento e arranja-se populari­ numa época em que Estados Unidos

dade política. Agora, como os fatos importavam, ao invés de exportar ca­

são teimosos, a Nação sofre... pitais. A Mongólia Exterior e o Viet-

Um exemplo da teoria «slogâmica» -Minh não recebem capitais america­

nos espoliativos e são paupérrimos.
é atribuir-se a nossa pobreza ao «pro­

cesso espoliativo» dos capitais estran­ Canadá, Holanda e o Estado de São

geiros. Debalde se demonstrará que a Paulo absorveram vastos capitais ian­

«sangria» causada pelos capitais es­ ques e se desenvolvem aceleradamen­

trangeiros, ao remeterem dividendos, te. Imagino que se uma explosão atô­

juros e «royalties», representa meio mica destruísse a bomba de sucção

por cento do produto nacional, ao pas­ norte-americana não ficaríamos por

so que a atividade dêsses capitais ge­ isso mais ricos. Apenas os nossos po­

ra direta ou indiretamente dez por líticos de esquerda teriam de encon­

cento da nossa produção anual. De­ trar um nôvo «slogan» para explicar o

balde se dirá que do nosso dispêndio subdesenvolvimento.

anual de divisas com a importação de Outro exemplo da teoria «slogâmi­

bens e serviços cêrca de trinta por ca» é dizer que a causa única do sub­

cento estão sendo financiados por con­ desenvolvimento é o colonialismo. Mas

tribuições estrangeiras, sob a forma de então a Tailândia e a Abissínia, inde­

empréstimos, «swaps» ou investimen­ pendentes há milhares de anos, seriam

tos, ao passo que as remessas feitas mais ricas que a Nova Zelândia e a

por esses capitais não atingem senão Austrália, colônias até há poucos lus­

6 por cento do nosso dispêndio anual tros atrás. E’ indiscutível que o esfor­

de divisas. Debalde... os partidários ço de desenvolvimento requer tal mo­

da teoria espoliativa já têm sua teoria bilização passional de energias do