Page 6041 - Revista Telebrasil
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e d  it o r i a  I




































                                                                                                                            A   I n e v i t á v e l   R e v o l u ç ã o












                                                                                                                            T e c n o l ó g i c a   e   o   B r a s i l

















                                                                                                                                                                                                                                                                                             Delson Siffert



                                                                                                                                                                                                                                                                         (Diretor da Telebrnsil e Presidente


                                                                                                                                                                                                                                                               (Lis Indústrias Kletrónicas do Grupo ABC)




































                              desenvolvi mento sócio-econômi-                                                                                                  mesmo com  fábricas estrangeiras em                                                                                                             gia através da educação maciça que ne­


                                   co atual  está condicionado, cada                                                                                           seu território, está criando o conceito de                                                                                                      cessita intensanientede tempoe, princi­



              0 vez mais,  ao desenvolvimento  tecnoló­"capitalismo social”  e confundindo o                                                                                                                                                                                                                   palmente, de capital.



              gico.  Tecnologia entendida como solu­                                                                                                            mundo ocidental.  Mas esse  tema é dos                                                                                                                   Até hoje quando pensamos em capa­



              ção industrializada, de geração própria                                                                                                          sociólogos. Voltemos á  tecnologia.                                                                                                             citação tecnológica,  muitas vezes esta­



              ou transferida, para melhoria da quali­                                                                                                                    Essas tendências  mundiais passam                                                                                                     mos preocupados apenas com o conheci­


              dade de vida.                                                                                                                                     por seis grandes conflitos nas socieda­                                                                                                        mento do produto e poucas vezes com a




                       Em  todos  os países desenvolvidos                                                                                                      des informatizadas. O primeiro é o con­                                                                                                         sua produção, equilibrando custo e qua­


              percebe-se a estreita ligação entre a tec­                                                                                                        flito básico já  introduzido acima:  a  dis­                                                                                                   lidade. Isso é um saber que exige tempo.



              nologia e o capital, a diminuição da im­                                                                                                          tinção dos objetivos do saber e da produ­                                                                                                      () Brasil dispõe de mão-de-obra e de ma­



              portância da "mão-de-obra” e da  maté­                                                                                                           ção.  Um país pode ter bom  desenvolvi­                                                                                                         téria-prima, recursos que estão se  tor­



              ria-prima. Cada vez mais, torna-se gera­                                                                                                          mento cient ífico (grupos do saber) e não                                                                                                      nando  irrelevantes,  mas,  infelizmente,



              dor do desenvolvimento o "cérebro-de-                                                                                                            ter boa qualidade de vida.  A  índia pro­                                                                                                       não temos poupança  própria  e  nem  fa­



              obra”, a massa cinzenta do homem edu­                                                                                                            duziu  silos de cimento (tecnologia de                                                                                                          cilidades de créditos externos para com­



              cada para transformar os recursos na­                                                                                                             processo)  só recentemente, apesar do                                                                                                          posição de  um  programa eficiente de


               turais — as energias potenciais — em                                                                                                            seu  conhecimento  centenário.  O  se­                                                                                                          P& D



               produtos úteis: máquinas, programas e                                                                                                           gundo conflito é o econômico, que é a lu­                                                                                                                Como resolver este  problema  bra­



               serviços.                                                                                                                                       ta entre os recursos necessários e os dis­                                                                                                      sileiro atual,  chamado por alguns de



                        A  índia quintuplicou sua produção                                                                                                     poníveis para algum programa de de­                                                                                                             "perda  de  oportunidade  histórica”,



               de grãos em  três  anos,  com  a  mesma                                                                                                         senvolvimento tecnológico. E o conflito                                                                                                         frente à  inevitável  revolução  tecnoló­



               área  plantada,  alim entando  até  a                                                                                                           das prioridades. O terceiro é o gerencial,                                                                                                      gica  mundial?  Apenas chorar por  não



               URSS, com o uso de silos de cimento, ao                                                                                                         que é o impasse entre os recursos então                                                                                                         termos aproveitado melhor, no passado,



               invés de bambus e madeiras, que apo­                                                                                                            aplicados em um programa e os seus re­                                                                                                          os recursos disponíveis,  quando ainda



              dreciam e permitiam entrada de ratos e                                                                                                           sultados. No fundo é a gerência de P&D,                                                                                                        eram  relevantes,  e jogar toda a culpa


               insetos.  Passaram  também  a  aplicar                                                                                                          o conflito entre os prazos dos projetos e a                                                                                                     nos  países  que  exploraram   essa  si­



               agrotóxicos em escala correta. Isso exi­                                                                                                        criatividade, sem tempo, dos cientistas.                                                                                                       tuação?



              giu pesados investimentos em engenha­                                                                                                                      O quarto é o da capacitação versus a                                                                                                           Como mensagem final desse pequeno



               ria agrícola, em parte financiados pelos                                                                                                        soberania tecnológica. Aqui está o pro­                                                                                                        ensaio, deixamos para reflexão a nossa



               próprios países consumidores dos grãos                                                                                                          blema da reserva de  mercado para  um                                                                                                           única saída:  criar um  multiplicador de



              finais — a  equação econômica se  fe­                                                                                                            produto ou para uma empresa. O quinto                                                                                                           nossos poucos recursos de capital, atra­



              chando no mercado internacional.                                                                                                                 conflito é o político,  particularmente                                                                                                         vés do nosso único recurso disponível, e


                       A Alemanha "segurou” sua tecnolo­                                                                                                       nos países endividados: a economia re­                                                                                                         relevante, que é a "engenharia da mas­



              gia de mecânica fina durante décadas, o                                                                                                          cessiva contra os investimentos em pro­                                                                                                        sa cinzenta”. Multiplicar o capital e as­



               mesmo fazendo  a  Inglaterra com  sua                                                                                                           gramas de  P&D. Tem-se que casar os                                                                                                             sim acelerar a educação. Formar massa



              tecnologia têxtil. Era a época do conhe­                                                                                                         tempos peculiares da  pobreza  econô­                                                                                                           crítica de P&D como postura  nacional.



              cimento sigiloso,  do mercado colonial                                                                                                           mica, da falta de recursos, que é uma                                                                                                           P&D produtivo e não apenas um exercí­



              em mão  única.  Quem sabia dominava,                                                                                                             evidência de curto prazo, com os tempos                                                                                                         cio intelectual de uma minoria. Isso, na­



              quando  não  escravizava.  Os  Estados                                                                                                           de P&D, que é um "conhecimento termi­                                                                                                          turalmente,  exige políticas inteligen­



               Unidos e o Japão dominam hoje o mer­                                                                                                            nal” resultante de políticas conseqüen-                                                                                                         tes,  conseqüentes e controladas.  Caso



              cado de microeletrônica. Até quando? O                                                                                                           tes de várias gestões de governo. Essas                                                                                                         contrário, continuaremos com a paradi­


              obsoletismo da tecnologia exige rápida                                                                                                           políticas têm que ser patrióticas mas ne­                                                                                                       síaca coletânea de desejos,que constitui



              comercialização da  mesma,  multipli-                                                                                                            cessariamente apartidárias, sem inter­                                                                                                          os demagógicos e distorcidos programas



              cando-se a produção em outros países. A                                                                                                          rupções nas transmissões do poder pú­                                                                                                           de governo.  Iniciemos  um  regime  de



              divulgação tecnológica é, atualmente,                                                                                                            blico.                                                                                                                                          guerra cerebral  e alimentemos as  fu­



              mais inteligente do que a preservação                                                                                                                     Esse talvez seja o maior conflito no                                                                                                  turas gerações para sua  continuação.



              burra do conhecimento.                                                                                                                           Brasil, que essencialmente é o problema                                                                                                         Um cientista programático já disse: "A



                       A Rússia, com sua atual política de                                                                                                     da falta de política de educação conse-                                                                                                         proteína de hoje é  a tecnologia  do  fu­



              abertura, descentralizando sua econo­                                                                                                            qüente. O último conflito é o da "inevi­                                                                                                        turo”.



               mia,  motivando  a  competição,  até                                                                                                            tável revolução tecnológica”. Tecnolo­
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