Page 1760 - Telebrasil Noticiário
P. 1760

CÓDIGO  BRASILEIRO  DE  TELECOMUNICAÇÕES







                                                                                                                                                                            —  “Diário  de  Notícias,  22-11-1962  —














                                                                                                                                                                                                                                             Artigo  assinado  por


                                                                                                                                                                                                                                             GUSTAVO  CORÇAO









                                     Tenho  diante  de  mim  o  texto  da                                                                                                com  que  se  enfeita  esta  velha  Repú­



                             lei  número  quatro  mil  cento  e  dezes­                                                                                                  blica  que  no  outro  dia  fêz  setenta  e




                             sete,  sancionada  pelo  exmo.  Sr.  presi­                                                                                                  três  anos,  e  ainda  não  tomou  juízo.



                             dente  da  República,  e  publicada  no                                                                                                      Conseguem,  sem  dúvida,  o  resultado,



                              «Diário  Oficial»,  de  5  de  outubro  pró­                                                                                                mas não creio que seja tamanha a per­




                              ximo  passado.  Trata-se  do  esperado,                                                                                                     versidade  de  seus  autores.  Mais  de­




                              ou  do  ameaçado  «Código  Brasileiro  de                                                                                                   pressa me  inclino para outra  hipótese:



                              Telecomunicações».  Lí-o.  Na  primeira                                                                                                     o  que  levou  os  autores  do  «Código»




                              leitura  pareceu-me  ruim,  mas  na  se­                                                                                                    ao involuntário culto  da  incompetência



                              gunda  leitura  pareceu-me  ainda  pior.                                                                                                     foi  o  sagrado  horror,  a  repugnância




                                      Entre outras  coisas assinalo o «Con­                                                                                                cívica  que  êsses  cavalheiros  têm  pela




                              selho  Nacional  de  Telecomunicações»,                                                                                                      coisa chamada «emprêsa».  Pior  do que



                              criado  no  capítulo  IV.  Terá  presidente                                                                                                  espelunca,  bordel,  prostíbulo,  a  coisa



                               indicado  pelo  presidente  da  República,                                                                                                  chamada  «Emprêsa»  lança  um  estig­



                               terá conselheiros  indicados pelo  minis­                                                                                                   ma  indelével  sôbre  seus  servidores.  O




                               tro  da  Guerra,  Marinha  e  Aeronáuti­                                                                                                    nacionalismo  vigilante  de  nossos  ho­



                               ca;  outros indicados  pelo  Chefe do Es­                                                                                                   mens  públicos  não  poderia,  pois,  con­



                               tado-Maior  das  Forças  Armadas;  ou­                                                                                                       sentir  que  almas  assim  poluídas  en­




                                tros  indicados  pelos  ministros  da  Jus­                                                                                                 trassem  no  santo  dos  santos  onde  o



                               tiça,  da  Educação  e  Cultura,  das  Rela­                                                                                                 dedo  fecundo  do  presidente  da  Repú­



                               ções  Exteriores,  da  Indústria e Comér­                                                                                                    blica,  direta  ou  indiretamente,  indica




                               cio;  e ainda outros indicados por seme­                                                                                                     todos  os  membros.



                                lhantes  critérios.  Só  não  podem  ser                                                                                                            Acontece que,  em  regra  geral,  todos



                                conselheiros  em  matéria  de  telecomu­                                                                                                    os entendidos em telecomunicações tra­




                                nicações  as  pessoas  sôbre as  quais  pe­                                                                                                 balham  em  emprêsas  de  telecomuni­



                                se a  mais  leve  suspeita  de  entenderem                                                                                                  cações,  e  não  em  emprêsas  de  laticí­



                                alguma  coisa  do  assunto.  O  artigo  nú­                                                                                                 nios,  nem  em  consultórios  de  dentista




                                mero  23,  do  mesmo  Capítulo  IV,  diz                                                                                                    ou  de psiquiatra.  Sendo assim,  não  po­




                                textualmente:  «Nenhum  membro  do                                                                                                           deremos  ter  no  Conselho  quem  enten­



                                Conselho  ou  servidor,  que  no  mesmo                                                                                                      da de  telecomunicações.  Paciência,  cul-



                                tenha  exercício,  poderá  fazer  parte de                                                                                                   tiva-se  a  incompetência,  mas  salvam-




                                qualquer  emprêsa,  companhia,  so­                                                                                                          -se  os  grandes  princípios  do  naciona­




                                ciedade  ou  firma,  que  tenha  por                                                                                                         lismo  e  do  estatismo.



                                objetivo  comercial  a  telecomunica­                                                                                                               O  presidente  já  nomeado  para  o




                                ção».  E  aqui  está,  nesta  singela                                                                                                        «Conselho»  declarou  há  dias  que  va­



                                amostra,  a  evidência  da  filosofia                                                                                                        cilava  entre  instalá-lo  em  Brasília  ou



                                que inspira o «Código». Será justo cha-                                                                                                      no Rio. Tire a média,  presidente, e  dei-




                                 má-la  de  Filosofia  do  Culto  da  Incom­                                                                                                 xe-o  a  meio  caminho,  e  como  tudo  en­



                                petência ?Não  me  parece  que  seus  au­                                                                                                    tre  a  verdadeira  e  a  falsa  capital  vai




                                 tores  tenham  procurado,  com  clara  e                                                                                                    por »via  aérea,  instale-o  na  estratosfe­




                                 firme  a  intenção,  mais  um  dêsses  pri­                                                                                                  ra,  que  é  onde  estará  posto  com  mais



                                morosos  ramalhetes  de  incompetência                                                                                                       propriedade.
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