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do  antiquíssimo  e  superadíssimo  capitalismo  cspoliativo  e  colonialista,  em  que  a

                                         concentração  de  riqueza,  em  mãos  de  alguns  poucos,  fôra  o  preço  da  extirpação  da»


                                         instituições  feudais,  que  submetiam  o  servo  à  gleba,  o  artífice  à  corporação,  o  in­

                                         telectual  aos  corredores  da  côrte.






                                                                              “ No  mercado  da  sociedade  capitalista  de  nossos  dias  o  homem  comum


                                                           é  o  consumidor  soberano,  cuja  decisão  de  comprar  ou  abster-se  de  o  fazer


                                                           determina,  em  última  análise,  o  que  deverá  ser  produzido,  em  que  qukmtidadc


                                                           ou  qualidade” .





                                                           Como  lembra  Von  Mises,  a  loja  de  luxo  tem  um  lugar  absolutamente  secun­


                                        dário  e  marginal  na  economia  do  mercado  capitalista.  Nêle  o  que  conta  é  a  produ­


                                        ção  em  massa.  O  “Big  Business”  serve  sempre,  direta  ou  indiretamente,  às  massas


                                        consumidoras.  O  freguês  enriquece  ou  empobrece  a  indústria  ou  o  comércio,  con­


                                        forme.  compre  ou  deixe  de  comprar  seus  produtos.  A  riqueza  só  pode  ser  ad­

                                        quirida  por  aquêles  que  servem  ao  consumidor.  O  capitalista  perde  seus  fundos  quan­


                                        do  deixa  de  os  investir  nas  linhas  de  produção  ou  comércio  que  satisfarão,  da melhor


                                        maneira  possível,  as  demandas  do  público.






                                                                              aEm  um  plebiscito  diário,  sempre  repetido,  em  que  cada  centavo  dá  o

                                                          direito  a  um  voto,  os  consumidores  determinam  quem,  deverá  possuir  e  dirigir


                                                          as  fábricas,  as  oficinas  e  as  fazendas.  O  controle  dos  meios  materiais  de  pro­


                                                          dução  é  uma  função  social,  sujeita  à  confirmação  ou  revogação  pela  sobe­


                                                          rania  dos  consumidores” .





                                                           Por  outro  lado,  a  empresa  moderna,  do  neoliberalismo  capitalista,  é  uma  pro­


                                        priedade  coletiva,  com  multidões  de  acionistas,  que  nelas  invertem  suas  poupanças


                                        para  construir  seu  patrimônio,  seu  “portfolio”  de  renda,  sua  aposentadoria  ou  sua


                                        melhor  herança.  Na  medida  em  que  os  países  se  enriquecem,  o  controle  dos  meios


                                        de  produção  sé  dilui  na  multidão  de  acionistas.  Em  pouco,  o  Estado  aprende  a  obter


                                        das  rendas  fiscais  a  quota  de  participação  que  precisa  para  o  exercício  de  suas

                                        funções  naturais  e  específicas  de  defesa,  aplicação  da  justiça,  assistência  social  etc.


                                        Os  conflitos  que  possam  surgir  entre  a  Emprêsa  e  o  Estado  são  quase  sempre  pas­


                                        sageiros  e  resultam  de  situações  novas  criadas  pela  evolução  da  tecnologia  ou  das


                                        relações  econômicas  e  sociais.  São  fàcilmente  ajustáveis,  ainda  que,  em  muitos  ca­

                                        sos,  os  problemas  de  micro-economia  da  emprésa  tenham  que  ceder  aos  ditames


                                        e  normas  de  conduta  impostas  pela  visão  macroeconômica  de  fenômenos  de  cres­


                                        cimentos  e  estabilidade  e  de  expansão  da  economia  nacional.  No  universo  do  neoli-


                                        beralismo  econômico  tende  a  desaparecer  a  antitese:  "patrão-empregado”,  porque


                                        todo  empregado  tende  a  ser  um  co-proprietário,  um  participante  das  empresas  em


                                         geral,  e  o  patrão  se  transforma  no  chefe  tecnocrata,  no  “manager” ,  no  gerente  es­


                                        colhido  e  eleito  pela  multidão  de  acionistas.  As  fantasiosas  histórias  de  forças  ocul­

                                         tas  fabulosas,  movendo  os  cordéis  da  economia  dos  países  desenvolvidos,  só  são


                                        aceitas  pelas  faixas  mais  ignorantes  da  sociedade.







                                                                                                                                   O  DEVER  DE  LUCRAR





                                                            Na  verdade,  a  vida  da  emprêsa  reflete  as  vicissitudes  da  economia  geral,  as


                                         expansões  e  depressões  da  conjuntura,  a  flutuação  do  comércio  internacional,  os


                                         choques  políticos  e  as  ameaças  de  guerra.  Entretanto,  aceito,  como  perfeitamente


                                         legitimo,  que  o  dever  precipuo  da  emprêsa  é  ter  sucesso.  E’  obter  lucro!  E’  criar


                                         riquezas  e  invertê-las  em  novas  industrias,  em  capacidade  produtiva  adicional.  E’

                                         dever  do  empresário,  oferecer  trabalho,  criar  oportunidades  para  trabalhadores  de


                                         tódas  as  categorias,  torná-los cada  vez  mais  bem  pagos,  de  modo  que  se  transformem


                                         também  em  acionistas,  proprietários  ou  condominos  de  uma  parcela  da  riqueza  co­


                                         letiva.  Enriquecendo  sua  emprêsa,  criando  emprêgos  e  pagando  tributos,  o  empre­


                                         sário  cumpre  o  seu  dever.  Como  qualquer  cidadão,  precisa  preocupar-se  com  os  pro­


                                          blemas  sociais  e  políticos  de  sua  comunidade,  mas.  como  empresário,  só  não  cum­


                                          prirá  o  seu  destino  se  não  enriquecer  seu  negócio,  se  levar  sua  emprêsa  à  falência,


                                          ou,  o  que  seria  mais  grave,  porque  seria  uma  traição  ao  próprio  espírito  do  mais

                                          puro  liberalismo  econômico,  se  conduzisse  sua  emprêsa  à  impossibilidade  de  viver


                                          fora  da  sombra  protetora  do  Estado.  Sempre  que  o  empresário  tenta  transferir  ao


                                          Estado  e  ao  contribuinte  o  custo  dos  “potes  quebrados”,  para  usar  a  expressão  de


                                          Prançois  Perroux.  ou  sempre  que  o  Estado,  a  qualquer  pretexto,  encampa  os  erros


                                          o  aventuras  do  homem  de  emprêsa,  transforma-se  o  regime  capitalista  em  algo


                                           ilógico  e  escandaloso,  para  usar  outra  expressão  do  prof.  Perroux.  Ao  homem  de
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