Page 1790 - Telebrasil Noticiário
P. 1790

cionismo  estatal  frusto  e  por  isto  mesmo  insaciável,  intolerante,  místico  e  mistifi-


                                               cador.  As  circunstâncias  históricas  não  nos  favoreceram  com  uma  liderança  do  tipo


                                               Rooseveltiano  capaz  de  avançar  pelos  caminhos  aventurosos,  porém  salvadores  do



                                               New  Deal,  para,  em  seguida,  submeter-se  aos  impulsos  irrefreáveis  de  uma  livre


                                                emprêsa  purificada  e  consciente  de  novos  deveres  sociais.  Ao  contrário,  as  interven­


                                               ções  estatais,  no  campo  dos  negócios,  se  transformariam,  no  Brasil,  num  proces­



                                               so  ilógico,  descompassado  com  a  realidade  dos  fatos,  resultado  de  interpretações


                                                falaciosas  de  fenômenos  econômicos  normais  —  muito  mais  um  tema  de  motivação


                                               eleitoreira  e  demagógica,  que  se  vai  tornando  um  comodo  método  de  tomada  de


                                                posição,  poder  e  riqueza  por  grupos  de  credenciais  duvidosas  para  servir  ao  Povo



                                                e  à  Nação.  Enquanto  isto,  grande  parte  das  elites,  fascinadas  pelo  progresso  técnico


                                               dos  Estados  Ditatoriais,  de  ontem  como  de  hoje,  buscam  afirmar  a  personalidade


                                                da  Nação,  mesmo  com  o  sacrifício  da  liberdade  e  da  democracia,  porque  ainda  não


                                                se  aperceberam  da  fôrça  criadora  do  liberalismo  econômico  e  da  livre  emprêsa  a



                                                serviço  das  massas,  na  idade  do  átomo.






                                                                    O  quadro  da  vida  empresarial  brasileira  está  marcado  pelo  destino  da  política


                                                de  estatizaçào  em  curso,  que  vem  sendo  uma  cópia  retardada  e  deformada  das  ex­



                                               periências  frustrantes  das  nacionalizações  do  Labor  Party,  na  Inglaterra,  ou  da  IV


                                                República  Francesa,  no  após-guerra,  cuja  herança  irreversível  inspirou  o  título  de


                                                um  livro  excelente,  de  Kelf-Cohen  —  “Nationalization  in  Britain  —  The  end  of  a



                                               Dogma1'.  Naqueles  países,  como  no  Brasil,  vários  setores  foram  nacionalizados  —


                                                ou  melhor  estatizados  —  quase  sempre  sem  razões  econômicas  validas,  mas,  por


                                                motivos  ideologicos  ou  como  escapadela,  na  ausência  de  capacidade  dos  dirigen­


                                                tes  políticos  para  enfrentar,  com  realismo,  as  conseqüências  das  flutuações  econô­


                                               micas  nas  emprêsas  de  utilidade  pública,  ou  nas  chamadas  industrias  de  base.  Va­


                                               gas  surpreendentes  de  movimentos  estatizantes  demonstraram  a  incapacidade  in­



                                               trínseca  e  insanável  do  “Estado  Industrial",  naqueles  países  açoitados  pela  Guerra,


                                                que  puderam  se  recuperar  para  a  democracia  e  a  liberdade,  reconstruindo  a  livre


                                                emprêsa  e  repudiando  o  capitalismo  do  Estado.  Quando  o  próprio  Partido  Traba­


                                               lhista  Inglês  resolve  retirar  de  seu  Programa  a  idéia  de  novas  estatizações  toma-se


                                               claro  que  as  experiências  de  socialismo  parcial  conduziriam  o  País  a  caminhos  de



                                                negação  e  fracasso,  que  o  povo  inglês  repele  pelo  voto  de  crescente  maioria.






                                                                                                                                                        “MEA  CULPA"






                                                                   Permiti  que  vos  fale,  por  um  momento,  na  primeira  pessoa  do  singular.


                                                                   Tenho  a  responsabilidade  de  haver  colaborado  na  criação  de  companhias  de



                                               economia  mista,  que  foram  ao  seu  tempo,  grande  sucesso,  porque  auxiliado  por  uma


                                               “equipe”  de  excepcional  valor,  pude  incutir-lhes  o  espírito  das  emprêsas  privadas.


                                               Tenho  assistido  a  myitas  outras  cópias,  infiéis  e  apressadas  dessa  idéia,  transforma­


                                               rem-se  em  mostrengos  econômicos.  Nunca  tive  preconceitos  contra  a  intervenção


                                               estatal  em  certos  setores  da  economia  e  sob  determinadas  condições,  isto  é,  quando


                                               se  cuidava  de  remediar  graves  lacunas  da  estrutura  industrial,  em  certas  áreas,  onde


                                               não  puderam  ser  superadas  pelo  método  lógico  de  estímulos  e  atrativos  à  iniciativa



                                               privada.  Todavia,  desde  minha  primeira  palavra  sôbre  esta  tese  em  “Memória  sô-


                                               bre  o  Plano  de  Eletrificação  de  Minas"  enviada  ao  II  Congresso  Brasileiro  de  Enge­


                                               nharia  e  Indústria,  em  1945,  preguei  a  intervenção  “supletiva  e  reversível"  do  Es­


                                               tado  no  domínio  econômico.






                                                                   Hoje,  confesso  sentir-me  profundamente  perturbado,  quando  procuro  fazer



                                               um  balanço  honesto  e  frio  dos  benefícios  iniciais  das  intervenções  estatais  que,  com


                                               entusiasmo,  ajudei  a  formular,  e  os  malefícios  permanentes,  crescentes  e  trágicos


                                               que  tem  resultado,  no  Brasil,  do  intervencionismo  desregrado  e  quase  sempre  in­


                                               justificável.






                                                                  Enquanto  algumas  poucas  emprêsas  de  economia  mista  constituem  inegável



                                               êxito,  ainda  que  transitório,  um  volume  imenso  da  atividade  econômica  vai  sendo


                                              transferido,  no  Brasil,  a  emprêsas  estatais  completamente  malogradas,  mal  conce­


                                               bidas,  mal  estruturadas,  dirigidas  por  chefes  incompetentes,  os  quais,  não  sabendo


                                               cumprir  o  dever  de  comandantes  de  emprêsas  industriais,  transformaram-se  em


                                              sombras,  manobras  por  figuras  dúbias  da  política,  com  intenções  inconfessáveis,



                                              ainda  que  fácilmente  discemíveis.






                                                                  Essas  emprêsas,  que  tem  pudor  de  cobrar  preços  de  venda  que  cubram,  pelo


                                              menos,  suas  despesas  de  operação,  nasceram  como  quisto  no  tecido  sadio  da  jovem
   1785   1786   1787   1788   1789   1790   1791   1792   1793   1794   1795