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cionismo estatal frusto e por isto mesmo insaciável, intolerante, místico e mistifi-
cador. As circunstâncias históricas não nos favoreceram com uma liderança do tipo
Rooseveltiano capaz de avançar pelos caminhos aventurosos, porém salvadores do
New Deal, para, em seguida, submeter-se aos impulsos irrefreáveis de uma livre
emprêsa purificada e consciente de novos deveres sociais. Ao contrário, as interven
ções estatais, no campo dos negócios, se transformariam, no Brasil, num proces
so ilógico, descompassado com a realidade dos fatos, resultado de interpretações
falaciosas de fenômenos econômicos normais — muito mais um tema de motivação
eleitoreira e demagógica, que se vai tornando um comodo método de tomada de
posição, poder e riqueza por grupos de credenciais duvidosas para servir ao Povo
e à Nação. Enquanto isto, grande parte das elites, fascinadas pelo progresso técnico
dos Estados Ditatoriais, de ontem como de hoje, buscam afirmar a personalidade
da Nação, mesmo com o sacrifício da liberdade e da democracia, porque ainda não
se aperceberam da fôrça criadora do liberalismo econômico e da livre emprêsa a
serviço das massas, na idade do átomo.
O quadro da vida empresarial brasileira está marcado pelo destino da política
de estatizaçào em curso, que vem sendo uma cópia retardada e deformada das ex
periências frustrantes das nacionalizações do Labor Party, na Inglaterra, ou da IV
República Francesa, no após-guerra, cuja herança irreversível inspirou o título de
um livro excelente, de Kelf-Cohen — “Nationalization in Britain — The end of a
Dogma1'. Naqueles países, como no Brasil, vários setores foram nacionalizados —
ou melhor estatizados — quase sempre sem razões econômicas validas, mas, por
motivos ideologicos ou como escapadela, na ausência de capacidade dos dirigen
tes políticos para enfrentar, com realismo, as conseqüências das flutuações econô
micas nas emprêsas de utilidade pública, ou nas chamadas industrias de base. Va
gas surpreendentes de movimentos estatizantes demonstraram a incapacidade in
trínseca e insanável do “Estado Industrial", naqueles países açoitados pela Guerra,
que puderam se recuperar para a democracia e a liberdade, reconstruindo a livre
emprêsa e repudiando o capitalismo do Estado. Quando o próprio Partido Traba
lhista Inglês resolve retirar de seu Programa a idéia de novas estatizações toma-se
claro que as experiências de socialismo parcial conduziriam o País a caminhos de
negação e fracasso, que o povo inglês repele pelo voto de crescente maioria.
“MEA CULPA"
Permiti que vos fale, por um momento, na primeira pessoa do singular.
Tenho a responsabilidade de haver colaborado na criação de companhias de
economia mista, que foram ao seu tempo, grande sucesso, porque auxiliado por uma
“equipe” de excepcional valor, pude incutir-lhes o espírito das emprêsas privadas.
Tenho assistido a myitas outras cópias, infiéis e apressadas dessa idéia, transforma
rem-se em mostrengos econômicos. Nunca tive preconceitos contra a intervenção
estatal em certos setores da economia e sob determinadas condições, isto é, quando
se cuidava de remediar graves lacunas da estrutura industrial, em certas áreas, onde
não puderam ser superadas pelo método lógico de estímulos e atrativos à iniciativa
privada. Todavia, desde minha primeira palavra sôbre esta tese em “Memória sô-
bre o Plano de Eletrificação de Minas" enviada ao II Congresso Brasileiro de Enge
nharia e Indústria, em 1945, preguei a intervenção “supletiva e reversível" do Es
tado no domínio econômico.
Hoje, confesso sentir-me profundamente perturbado, quando procuro fazer
um balanço honesto e frio dos benefícios iniciais das intervenções estatais que, com
entusiasmo, ajudei a formular, e os malefícios permanentes, crescentes e trágicos
que tem resultado, no Brasil, do intervencionismo desregrado e quase sempre in
justificável.
Enquanto algumas poucas emprêsas de economia mista constituem inegável
êxito, ainda que transitório, um volume imenso da atividade econômica vai sendo
transferido, no Brasil, a emprêsas estatais completamente malogradas, mal conce
bidas, mal estruturadas, dirigidas por chefes incompetentes, os quais, não sabendo
cumprir o dever de comandantes de emprêsas industriais, transformaram-se em
sombras, manobras por figuras dúbias da política, com intenções inconfessáveis,
ainda que fácilmente discemíveis.
Essas emprêsas, que tem pudor de cobrar preços de venda que cubram, pelo
menos, suas despesas de operação, nasceram como quisto no tecido sadio da jovem